sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Quinze do oito

Vem chegando o dia.
Mais um.
E os 48 não vão chegar.
Mas os 30 vão.
E não vai ter a mesma graça.
Igual não tem o vestido branco.
As seis da tarde. As quatro da manhã. 
Nem os sapatinhos em pés gordinhos.
Duas velhinhas na rua.
Feriado da Santa.

E dói
Os quadros nas paredes.
A porta sempre aberta.
Louças sujas, armários arrumados. 
Os primeiros dias de quem dá a luz.
Chico, Caetano e Gil.
Uma roupa que rasga.
Ver o que vai embora.
Cada papel revirado, carimbado e assumido.
Cada dia que começa.


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Não Me Afastar de Você

Disseste tudo ao dizer:
Quando a ausência de mim
Fizer presença em meu ser,
Visitarei a mim mesmo,
Para não me afastar de você.

Quando o peso do dever
Em mim soterrar a alma
Entre os escombros da vida,
Quero flutuar qual pluma
Na leve brisa da calma.

Quando o dizer tiver o poder
De revelar o que não quero,
Paro a pluma, guardo a voz,
Me rebelo no silêncio
Para me manter sincero.

Antes da noção do certo
Se revelar um engano,
Saio do cotidiano:
Adentro em outras rotinas,
Noutros mares vou pescar.

Não quero porto seguro,
Só âncora, vela e mar.
Âncora para ser meu porto,
Vela para me levar,
Mar para, no litoral,
As minhas ondas quebrar.

Rubem Alves


sábado, 2 de agosto de 2014

Grau de Dificuldade

Não me venha chorar as pitangas,
Sem nem me perguntar como estou
Um vago tudo bem
Olhares penosos e investigações sem fim
Suposições e julgamentos sem sentido

Necessito de presença real
De conforto, ombros e ouvidos
Companhias e incentivos mudos
Aqueles que sempre estiveram aqui
De coração e alma

Se é difícil para você,
Imagina para mim...