quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que há de ser de mim?


      PASSAGEM DAS HORAS

    Trago dentro do meu coração,
    Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
    Todos os lugares onde estive,
    Todos os portos a que cheguei,
    Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
    Ou de tombadilhos, sonhando,
    E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

    A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,
    O coral das Maldivas em passagem cálida,
    Macau à uma hora da noite... Acordo de repente...
    Yat-lô--ô-ôôô-ô-ô-ô-ô-ô-ô...Ghi-...
    E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade...
    A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol...
    Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
    Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
    Tempestades em torno ao Guardafui...
    E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
    E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...

    Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
    Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
    Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
    Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
    E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

    A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
    Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
    Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
    Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
    Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
    Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
    Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
    Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
    Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

    Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
    Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
    Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
    Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
    Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
    Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

    Seja o que for, era melhor não ter nascido,
    Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
    A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
    A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
    Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
    E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
    Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
    E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
    Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

    Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
    É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
    Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
    Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
    Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
[...]

Álvaro de Campos - Fernando Pessoa

Sempre o conforto do meu desassossego, caro Polidoro!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

"When all I want is you..."

"You say you'll give me eyes in the moon of blindness
A river in a time of dryness
A harbour in the tempest.
But All the promises we make, from the cradle to the grave
When all I want is you.

You say you want your love to work out right
To last with me through the night"

U2 - All I want is you

terça-feira, 31 de maio de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

Fobias

[...]

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ilhas

Eu acreditava em ilhas.

Eu era uma ilha.

Eu construí pontes.

Eu acolhi barcos.

Que agora partem.

Que agora quebram.

Que agora me fazem ilha.

Que agora me naufragam.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

That is just the way it was
Nothing could be better
And nothing ever was
Oh they say you can see your future
Inside a glass of water
The riddles and the rhymes
Will I see heaven in mine?

Oh oh oh oh I
Son don't ask
Neither how full or empty
Is your glass

[...]

Oh what are we drinking when we're done?
Glasses of water


COLDPLAY - GLASSES OF WATER